Alguém sentou ao lado dela, pediu desculpas e começou a puxar algum assunto. Assim como qualquer outra pessoa que parasse ali, ela ouviu, assentiu, mas no fundo nem prestou atenção. Mas é claro que não, por mais que a pessoa ao lado estivesse ficado órfã há duas horas, por mais que seus filhos estivessem mortos agora, por mais que ela tenha perdido tudo... nós sempre consideraremos os nossos problemas - só os nossos - os piores.
Acontece que essas pessoas de transportes públicos ou de qualquer outro lugar que desmoronam todas as suas dificuldades para qualquer estranho ao lado, no fundo, se não é você o sujeito é você que está ignorando o fato de que existe - existe sim - alguém que precisa mais de ajuda do que qualquer outro, precisa mais que você, precisa mais que ela. Mas quem admite isso ?
No caso, um homem que poderia ser facilmente um modelo, desabado, ali, ao seu lado, pedindo qualquer conforto possível, procurando pelo menos por palavras de consolo ou até algum sinal de que ela entende o que se passa... e ela, assentindo sem sentir.